Ano: 2030. Cidade: São Luís – Maranhão.
Jemeson era um compositor introspectivo, conhecido por caminhar à beira-mar no fim das tardes, sempre com seu violão às costas. Desde a perda de sua mãe em 2027, ele passava horas trancado em seu quarto, compondo canções que nunca mostrava a ninguém. Mas naquele verão de 2030, algo mudou.
Foi em um domingo abafado, quando o céu estava pintado de tons dourados, que ele a viu pela primeira vez.
Galena.
Ela surgiu como um borrão entre a multidão da Praia do Calhau — cabelos pretos lisos, olhos intensos, usando uma blusa listrada em tons quentes. Seus passos eram leves, mas decididos, como se conhecesse cada grão de areia daquele lugar. Jemeson, curioso e encantado, não conseguiu tirar os olhos dela.
Naquela mesma noite, à meia-noite em ponto, enquanto tocava sua música solitária, a campainha tocou. Quando abriu a porta... era ela. Galena.
— “Ouvi sua música da rua… você permite companhia?”, disse ela, com um sorriso que carregava luz e mistério.
Desde então, todas as noites à meia-noite, Galena aparecia. Eles não conversavam muito. Em vez disso, ela deitava ao lado dele enquanto ele tocava. Às vezes, dançava com olhos fechados; outras, chorava em silêncio. Mas ao amanhecer, antes do sol nascer, ela sempre desaparecia, deixando o travesseiro ainda morno, e um perfume adocicado que lembrava mel e girassóis.
Jemeson passou a escrever músicas como nunca antes. Canções apaixonadas, intensas, inspiradas em sua musa da meia-noite. Ele se apaixonou, mesmo sem entender de onde ela vinha… ou para onde ia.
Mas havia um detalhe estranho: ninguém mais via Galena. Nem os vizinhos. Nem os amigos. Nem mesmo as câmeras da casa registravam suas visitas. Para o mundo, ela era invisível. Para Jemeson, era real como o calor do seu toque.
Foi real? Foi sonho? Ou uma visita do passado, do futuro… ou de outro plano?
No último domingo de agosto, ela apareceu pela última vez.
Sem dizer palavra, beijou Jemeson na testa, colocou uma flor de girassol em suas mãos e desapareceu antes mesmo que o sol ameaçasse nascer. Na manhã seguinte, Jemeson tentou procurá-la, mas só encontrou a flor de girassol seca, como se tivesse sido colhida há anos.
Desde então, todas as noites ele toca a mesma música:
“No sussurro da meia-noite, você vem me encontrar...”
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