Enquanto olhava para a janela, a cidade ao longe parecia imóvel, como se o tempo tivesse parado no momento em que ela foi embora. Se fosse nos anos 80, pensava Gabriel, talvez tudo fosse mais fácil. Ele se afogaria em um copo de uísque barato, pegaria a estrada sem rumo e se perderia entre o asfalto e a fumaça de um cigarro. Mas agora, preso no presente e vivendo no passado, tudo o que restava era a dor de um amor que não podia ser esquecido.
O rádio, que ele sequer lembrava de ter ligado, começou a tocar uma melodia familiar. Era I’ll Be There for You. O coração apertou. Ele lembrou de como ela sorria quando essa música tocava, de como dançavam juntos na sala, sem se importar com nada além do momento. Agora, tudo parecia um sonho distante, desmoronando como castelos de areia levados pelo vento.
Foi então que ele pegou o casaco e saiu. Caminhou sem direção, sentindo o vento frio tocar seu rosto. Passou pela igreja onde se despediram pela última vez, onde ela disse que precisava seguir em frente, mas seus olhos denunciavam a dor de sua escolha. Ele lembrava do momento exato em que o sorriso dela desapareceu, de como sua voz falhou ao dizer que ficaria tudo bem, mesmo quando ambos sabiam que não ficaria.
Sem perceber, Gabriel parou diante de uma loja de discos antigos. Entrou por impulso e percorreu as prateleiras até encontrar um vinil surrado da banda que marcou o relacionamento deles. Pegou o disco com cuidado, como se segurasse um pedaço da sua própria história. Talvez nunca conseguisse esquecê-la completamente, talvez algumas músicas fossem sempre lembranças dolorosas, mas ele precisava seguir em frente.
Com o vinil debaixo do braço, saiu da loja sentindo que, de alguma forma, ainda havia algo dele no passado. Mas agora, pela primeira vez em muito tempo, ele também queria descobrir o que o futuro guardava.
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