Chuva de Março

 

A Chuva de Março

O tempo estava quente naquele fim de tarde de sexta-feira. A praça estava cheia de gente aproveitando os últimos dias do verão. Eu não sabia que aquele dia, 22 de dezembro, mudaria minha vida para sempre.

Foi quando a vi. Ela apareceu como a lua surgindo no horizonte, misteriosa e encantadora. Seus cabelos dançavam com o vento, e seus olhos refletiam a luz dourada do pôr do sol. Não demorou para nos encontrarmos no meio daquela multidão. Dois jovens sem destino, conversando como se já se conhecessem há anos.

Os meses passaram, e nosso amor crescia como as ondas que vêm e vão, sempre voltando para a praia. Janeiro, fevereiro... Em março, choveu. Uma chuva forte, inesperada, que nos pegou de surpresa no meio de uma caminhada. Corremos para debaixo de uma marquise, rindo como crianças. Mas, mesmo ali, com o céu cinza e a água escorrendo pelo rosto dela, nunca vi algo tão bonito.

Naquele instante, sem ensaios, sem medo, eu a abracei e perguntei:

— Quer namorar comigo?

Ela sorriu, com os olhos brilhando, e disse:

— Sim.

O tempo nos deu muitos dias felizes depois disso. Passeios, viagens, madrugadas em claro, abraços que pareciam promessas de eternidade. Mas o destino tem suas formas de testar até as histórias mais bonitas.

As palavras que antes eram doces, tornaram-se afiadas. O brilho nos olhos se apagou, e o silêncio foi tomando conta. Um dia, percebemos que nosso amor estava como aquela chuva de março: forte, intenso, mas passageiro. A separação veio como um temporal, deixando estragos que nenhum de nós sabia como consertar.

Os anos passaram. Hoje, já se foram vinte primaveras desde aquele primeiro beijo sob a chuva. Mas sempre que março chega, quando as nuvens escurecem e a primeira gota toca o chão, me lembro dela. Do seu perfume, do seu sorriso. Daquele “sim” que mudou minha vida e daquele adeus que nunca deixou de doer.

Porque algumas chuvas passam... Mas algumas nunca secam dentro da gente.



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