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POLÊMICA, Abuso policial. Escrivã é deixada nua e é revistada à força.

domingo, fevereiro 20

Desolador o que mostra essa reportagem exclusiva do Jornal da Band (no YouTube tem o vídeo inteiro, ainda pior e mais desesperador). Isso aconteceu em 2009 e foi filmado. Numa delegacia. Por policiais. Contra uma policial. A moça, uma escrivã, era suspeita de receber 200 reais para arquivar um inquérito. Um delegado queria revistá-la. Ela disse que podiam revistá-la, desde que a revista fosse feita por uma policial mulher. Seu pedido foi ignorado. Mais pra frente, ela foi algemada e despida à força pelos homens, na frente de uma câmera, que a filmou nua. Os duzentos reais misteriosamente apareceram na mão do delegado. Mas é totalmente irrelevante se a escrivã é ou não culpada. O que a filmagem deixa claro é que os policiais agiram de forma totalmente errada.
Ah sim, quem fez isso foi a corregedoria. Sabe o órgão da polícia constituído para investigar desvios da própria polícia? Esse aí.
A Secretaria de Segurança Pública de SP (que, só pra lembrar, pertence ao Estado mais rico da Federação, um que é governado pelo mesmo partido há 16 anos) guardou as imagens em segredo. A única pessoa punida até agora foi a escrivã, que foi expulsa, apesar de não ter sido julgada. Não aconteceu absolutamente nada com os seis homens e as duas mulheres presentes, todos agentes públicos. Ainda hoje, a corregedoria jura que não houve nenhum equívoco de sua parte. Pelo contrário, diz que sua ação foi “correta e moderada”. Despir uma mulher à força na frente de seis policiais homens é moderadíssimo.
Isso me fez lembrar o que Susan Brownmiller conta em seu clássico dos anos 70,Contra a Nossa Vontade. Era comum vítimas terem que narrar nos mínimos detalhes o seu estupro para policiais homens que ora não acreditavam nelas, ora pareciam se excitar com a narrativa. Isso quando essas vítimas não ouviam do policial: “Mas quem iria querer te estuprar?” Em 72, Susan foi dar uma palestra sobre estupro a tenentes da polícia de Nova York prestes a serem promovidos a capitães. Um dos policiais no auditório perguntou, rindo, entre assobios dos outros: “Docinho, você não acredita mesmo que estupros existam, acredita?” Os policiais ali presentes achavam que estupros eram lenda urbana, queixas de prostitutas que não conseguiam cobrar de seus clientes ou eram roubadas pelos seus gigolôs. 
Obviamente o despreparo dos policiais americanos em lidar com assuntos de mulheres” não se limitava apenas a estupros. Mulheres espancadas pelos companheiros, mulheres ameaçadas, mulheres assediadas – tudo era motivo de chacota para policiais homens sem nenhuma empatia. Mesmo assim, a mera ideia da criação de delegacias das mulheres foi recebida a pontapés. Seria um sexismo contra o homem, incharia a máquina estatal, e, como as pessoas são iguais perante a lei, não haveria por que mulheres terem uma lei especial só pra elas. Muito parecido com o que vem sendo dito hoje sobre a Lei Maria da Penha, não? Só que depois de ver essas imagens da reportagem da Band, quão alienad@ alguém tem de ser pra afirmar que mulheres são iguais perante a lei?
Se policiais fazem isso com uma policial colega deles, numa delegacia, com uma câmera filmando, imagine o que não fazem com mulheres comuns na rua. Por exemplo, com prostitutas, com quem os policiais têm um histórico de abuso, simplesmente por não considerá-las cidadãs. E elas vão reclamar pra quem? Pra corregedoria?
De modo geral, a polícia de quase todos os países é uma instituição autoritária e violenta que existe apenas pra defender a propriedade privada e humilhar quem já nãtem direitos. E toda vez que eu digo isso vem algum sem-noção perguntar se eu gosto é de bandido. Lógico que não tenho o menor carinho por criminosos, mas eles são isso, criminosos. Agem contra a lei, e devem ser combatidos. Já a polícia, teoricamente, é um braço da lei. Então como pode se comportar de forma criminosa? Como podemos aturar uma atitude criminosa de alguém que deveria nos defender?
Tenho uma vergonha imensa dessa polícia. 

Update: Folha explica que o caso ocorreu em junho de 2009, eque o inquérito já foi arquivado (já esta notinha doCorreio Braziliense jura que o Ministério Público vaiinvestigar). Uma corregedora disse que os delegados "agiram dentro do poder da polícia”, e ainda afirmou que os policiais envolvidos são “corajosos e destemidos” (ahã, de fato é preciso muita coragem pra algemar e despir uma mulher "histérica e relutante", como escreveu um leitor fascista). Para um promotor, não houve nada de mais, “apenas um pouco de excesso na hora da retirada da calça da escrivã, todavia, em nenhum momento vislumbrei a intenção do delegado que comandava a operação de praticar qualquer ato contra a libido da escrivã”. Nah, nada contra a libido. No vídeo, uma das frases mais chocantes é quando o autoritário diz pra ela, "Você não tem que querer". E, pasmem! O vídeo não foi aceito como prova no inquérito por causa da postura de vítima da escrivã.
É exatamente isso que é machismo. Não é um caso individual. Não é a violência de um ou dois ou dez policiais contra uma mulher. É todo um sistema que legitimiza essa violência.


Via escrevalolaescreva

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